Fanatismo nas artes marciais.



           Oss!

      Não é de hoje que venho falando o quanto o fanatismo no universo das artes marciais pode ser prejudicial para o fanático por uma determinada arte marcial, como também para a sociedade. Por esses dias mesmo, vi uma página de Karate na internet que os comentários das pessoas e pelo visto todas adeptas de Karate-Do, eram absurdos e típicos de fanáticos que não enxergam qualidade em figuras públicas que fizeram fama, mas  não lutaram publicamente.

      O tema era em cima de Bruce Lee. Decerto que Bruce foi um personagem polêmico no universo das artes marciais, mas teve seus méritos que não devem ser ignorados ou mesmo não se deve dizer que tal pessoa também não teve seu valor.

      Os karatecas fanáticos diziam que Bruce Lee não renderia nada na frente de um verdadeiro Karateca  e vários comentários alegavam que ele era um artista marcial e não um lutador. Essa frase por exemplo, foi atribuída por eles a Chuck Norris. E eles disseram que Chuck Norris disse que venceria ele fácil, mas o que esses pelo visto ignoram é que em todo e qualquer documentário sobre Bruce Lee, Chuck Norris falava sobre as qualidades incríveis de Bruce Lee.

      Isso se repete na boca dos vários lutadores que atuaram ao lado dele no cinema. Bob Wall(Karateca), Jim Kelly(Karateca) etc, todos diziam o mesmo, Bruce era um fenômeno para a época. Devo lembrar a esses que Bruce veio de uma escola clássica de Kung Fu, ou seja a escola do Sifu Ip Man de Wing Chun e mesmo tendo apenas estudado três níveis de seis e não completando seus estudos nessa arte marcial assim como em nenhuma outra, ele tinha noção real do panorama de lutas reais, pois era um lutador de rua.

    Ele era um playboy de Hong Kong filho de um ator famoso por lá e ao mesmo tempo isso trás explicações sobre a personalidade arrogante de Bruce Lee tão quanto dos Gracies no Brasil. Conta se também que ele foi líder de gangue de rua e por isso usou muito dos seus conhecimentos em tais brigas de rua.

    Portanto desfazer desse homem me parece fruto de confusões entre seus filmes com enredos exagerados que também sofreram influência do que a China e ele mesmo viveu vendo a invasão japonesa em sua infância. Obviamente Bruce Lee fazia sequências ridículas no que diz respeito a mentira grande dele entrar sozinho num Dojo japonês e bater em todos os integrantes japoneses desse Dojo.

    Penso que não precisamos ser e ter a mentalidade de São Tomé, ou seja, ver para crer, pois nem tudo é enganação. Então quer dizer que essas pessoas que estavam desfazendo de Bruce Lee fazendo coro inclusive com os Gracies dizendo que Bruce Lee só era bom nos filmes, sendo que no caso deles puxando a sardinha para o lado do Karate, acreditam realmente que os americanos nos anos sessenta e setenta com uma América do norte muito mais racista ainda do que hoje, iria mesmo colocar um asiático como melhor lutador do que os lutadores americanos?

    Embora esse texto não tenha Bruce Lee como centro do tema, foi necessário tocar nesse exemplo fresco, pois esse texto sobre Bruce Lee vi essa semana. Quer dizer então que se ninguém viu Bruce Lee na frente das câmeras lutando de verdade a não ser na luta demonstrativa do campeonato de Ed Parker, mas sim só nos filmes ele seria uma fraude fabricada pela mídia?

   Ou será que a imagem de Bruce Lee incomoda a muitos num sentido de inconsciente coletivo ocidental por ser de baixa estatura, não ter massa muscular gigante como a maioria dos ocidentais e por ser chinês! Eu certamente apesar de não ter uma resposta, tenho vários pensamentos a respeito, mas qual deles é o real motivo não sei.

    É importante lembrar o seguinte; todo ídolo tem sim sua imagem exaltada de maneira exagerada, mas principalmente nos E.U.A. não iriam elevar a imagem de um americano sim, mas com cara de chinês e sangue chinês acima dos seus lutadores, pois com o complexo de superioridade deles, isos não seria possível.

    Dos comentários toscos os quais li em tal página, o mais absurdo pra mim era um que me soou claramente como as historinhas tão lendárias dos anos oitenta quanto as que dizem de Bruce Lee, ou seja, de que uma pessoa que estava ali na página, havia conhecido um japonês carateca que dizia que vários karatecas verdadeiros venceriam facilmente Bruce Lee etc.

    Mas um comentário feito por eles nessa conversa, incrivelmente não ganhou força comodamente entre eles, mas se a ideia era detonar Bruce Lee, nem sei porque fizeram tal comentário. A pessoa disse que certa vez perguntaram ao saudoso mestre Tetsuhiko Asai o que ele achava de Bruce Lee e ele teria respondido que o respeitava.

    Para mim isso sim basta, pois vindo de um gigante de mente extremamente aberta como Tetsuhiko Asai, já diz que realmente que Bruce Lee teve seu valor. Acredito até que o querido Papa do Karate-Do Hirokazu Kanazawa também o admirava.

    Embora existam as tristes questões culturais entre China e Japão, o Karate-Do tem claramente suas origens no Kung Fu chinês e isso liga os adeptos das duas artes marciais. Por isso seria um tanto quanto ignorância da nossa parte, não admirar Bruce Lee, pois em seu Jeet Kune Do contrariamente ao que pensa a maioria, não era fruto apenas de misturas e estudos de vários estilos de Kung Fu, mas sim de vários elementos e artes marciais e inclusive o nosso Karate-Do.

    Era quase que impossível ele não aprender técnicas de Karate-Do estando nos E.U.A. que já era um grande seleiro do Karate uma vez que os americanos trouxeram de Okinawa e Japão tal arte e seus estilos. Assim como estudou Judo incluindo técnicas dessa arte no solo etc.

    Se alguém nos E.U.A. dissesse nos tempos do próprio Bruce Lee que no Brasil existia a família Gracie e sue Jiu Jitsu, certamente por mais histórias que contassem por lá, se não vissem nada disso em ação, não teriam aderido o Jiu Jitsu deles e nem tirado o chapéu para os brasileiros.

    Por isso vamos ser realistas e reconhecer que não é só aquele que aparece que é bom, pois muitas vezes aqueles que  não foram vistos lutando ou mesmo não aparecem na mídia ou no meio marcial de forma pública é bom e muitas vezes verdadeiramente melhor do que os que aparecem, pois existem vários anônimos que são máquinas de combate, mas preferem viver no sossego dos seus lares com suas respectivas famílias e  no máximo dão suas aulas. Posso seguramente dizer que o próprio Kyoshi Kung da Associação Ronin de Karate-Do Antigo é um desses.

    O fanatismo no ambiente das artes marciais só separa as pessoas e por isso não devemos dizer aos quatro cantos que a nossa arte marcial é a melhor e que os representantes públicos ou não de outras, perderiam facilmente dos melhores expoentes da nossa arte marcial.

    Não é isso que o Karate-Do Shotokan Ryu e nenhum outro estilo de Karate ou arte marcial em si nos ensina. Todas as artes marciais possuem seu valor e o fanatismo não é bem vindo entre nós. Com todos os defeitos da era MMA, ele trouxe hoje mais margem para as pessoas voltarem a ter respeito pelas diversas artes marciais existentes as quais tinham perdido o valor na era Vale Tudo quando só o Jiu Jitsu brasileiro era exaltado.

    Vamos refletir sobre o tema, pois a tradição do Karate-Do Shotokan Ryu deve ser preservada e nesse processo, devemos ter a consciência de que devemos amar a nossa arte, mas jamais sermos fanáticos, pois temos visto o que o fanatismo trouxe ao mundo ao longo dos séculos e nos últimos tempos no planeta.

Como o mestre Gichin Funakoshi nos ensinou:

"Reipeitar acima de tudo"

E isso inclui respeitar outras artes marciais, pessoas e literalmente tudo e todos.

     Oss!

     Sensei Allan Franklin

                          

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