Oss!
O Karate-Do é inegavelmente uma arte viva e sendo assim ele jamais vai se repetir. Isso se enquadra de aluno para aluno, de estudante para estudante e de mestre para estudante.
As vezes temos receio de destoarmos dos nossos companheiros de Dojo. Temos mais receio ainda de diferirmos do nosso Sensei ou Shihan em algum aspecto da prática do Karate-Do.
Mas nessa hora penso que ao longo dos séculos e décadas nossa arte foi mudando e jamais podemos dizer que a arte que praticamos hoje é a mesma de ontem. Assim como nenhum dos alunos de todos os mestres foram iguais tecnicamente ao seus respectivos mestres.
Alguns podiam ter o mesmo nível técnico de seus mestres, ou mesmo inferior, mas jamais igual no modo de praticar. Levamos as raízes de nossa escola e de nossos mestres, mas jamais seremos tecnicamente iguais a eles.
E isso não deve ser visto um ponto negativo! Isso é a arte viva nas mãos de seres humanos vivos e pensantes! Nada além disso!
Hoje vemos um receio grande da descaracterização do Karate-Do, mas volto a perguntar; o que seria o tradicional Karate-Do Shotokan Ryu? Uma arte engessada ou extremamente rica como a vejo?
O aluno é o reflexo do mestre, mas nem por isso reflete a mesma imagem. O bom aluno é aquele que reflete as mesmas técnicas, a mesma essência e os mesmos fundamentos do Karate-Do tradicional, mas nem por isso em execução da técnica e arte, seja igual ao seu orientador.
Hoje vivemos um panorama no universo das artes marciais totalmente desvinculado com os intuitos e buscas dos velhos mestres de Okinawa e do próprio Japão em essência.
Desse cenário, muito se deve a falta de compromisso de milhares de praticantes da nossa arte marcial que apenas se preocuparam em serem campeões de Karate fossem dentro do panorama do kumite baseado em pontos ou de campeões de katas mais teatrais do que autênticos.
Portanto hoje vemos os que defendem essa bandeira e outros que defendem o Karate-Do com sua alma autêntica, ou seja, a marcial. Mas enquanto isso no universo do próprio Karate-Do tradicional marcial, há divisão de pensamentos e do que seja certo ou errado. Há muita discórdia do que seja autêntico ou do que esteja descaracterizando a nossa arte.
Por isso digo que vivemos um momento muito confuso no universo do nosso Karate-Do. Tão confuso quanto o momento político do nosso país.
Decerto que se faz muito necessário reflexões a respeito do que seja a arte do Karate-Do, pois além de toda essa divisão entre Karate-Do voltado para o esporte de um lado e o Karate-Do marcial do outro e de dentro do panorama do Karate-Do marcial do que seja autêntico ou não, temos um grande problema que ultrapassa isso tudo.
Me refiro ao fato de muitos veteranos apontarem o dedo para tudo que está errado no ambiente do Karate-Do, mas ao mesmo tempo se omitem e nada mudam. Ficam distantes criticando, mas não tomam atitudes.
Assim vemos dia após dia o universo do Karate-Do se desintegrar acreditando que por estar rumo as olimpíadas, está se consolidando.
Ao consultarmos os bunkais dos 26 katas Shotokan Ryu, sempre vemos as mesmas aplicações vindo da JKA ou SKIF. Eu vos lhe digo que há muito mais além do que mostram em termos de aplicações das técnicas ali contidas!
E com isso podemos ter toda certeza de que enquanto no Brasil e ocidente o Karate se volta para o esporte, por mais que os japoneses também o façam, por lá, acreditem, eles jamais largaram e largarão os aspectos marciais.
Os melhores mestres brasileiros de Karate-Do aprenderam muito mais do que vocês vêem na internet.
Por isso digo a vocês com toda certeza, não julguem pessoas que apresentem técnicas as quais nunca viram seus professores e mestres lhe ensinarem ou mesmo por jamais terem visto algum mestre da JKA mostrar tais técnicas, pois o Karate-Do se faz uma arte completa e rica, por justamente ser ilimitada e os japoneses sabem disso, mas nem sempre passam isso pra vocês!
A prova disso foram os grandes mestres da antiga N.K.K. e JKA e até mesmo a visão ampla do atual Sensei Tatsuya Naka que se permite conhecer Dojos de outros estilos de Karate inclusive em Okinawa. Com isso Naka Sensei mostra que está estudando mais do próprio Karate-Do Shotokan Ryu do que muitos pensam, pois o Karate em si se repete tecnicamente em todos os estilos.
O que Naka Sensei faz, é apenas descobrir novas formas de usar tudo que ele já conhece e está redescobrindo o que o próprio Gichin Funakoshi Shihan aprendeu em Okinawa e viu.
Será que pra muitos agora Naka Sensei trai ou descaracteriza o Karate-Do Shotokan Ryu por estar visitando outras escolas e resgatando a essência do Karate-Do Shotokan Ryu como gigantes do Karate-Do Shotokan Ryu fizeram como Tetsuhiko Asai e Hirokazu Kanazawa em outros tempos?
Portanto nunca teremos a mesma imagem dos nossos mestres, mas sim teremos sempre a mesma essência e ainda que eles não vejam assim, estaremos fazendo o mesmo que eles ou os ancestrais do Karate-Do fizeram. Caberá apenas a esses terem olhos de ver.
Oss!
Sensei Allan Franklin.
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