Explorando as técnicas do Karate-Do Shotokan Ryu



Oss!

      As artes marciais tendem a evoluir a cada tempo que passa. As artes marciais de hoje, certamente não são as do passado e não falo sobre alguma mudança em si nas técnicas, mas sim na forma de usa-las, na compreensão por parte dos praticantes e a assimilação popular das mesmas. Hoje certamente temos mais acesso a diversos sistemas marciais os quais as gerações passadas jamais tiveram.

      Houve um tempo em que as informações e artigos não chegavam a nós aqui no Brasil e dificilmente alguém tinha um panorama sobre as várias artes marciais que a juventude de hoje dispõe. Quem foi criança nos anos oitenta sabe que ainda naquela época, as informações vinham aos pousos. Está certo que tínhamos várias ótimas revistas sobre artes marciais as quais as de hoje apenas uma só no panorama das artes marciais, chega perto um pouco  próximo das antigas revistas sobre artes marciais que circulavam no Brasil. Mas ainda assim ter tais revistas como Kiai, Samurai, Combate e até mesmo a revista Cinturão Negro que vinha de fora, já era um luxo no assunto. O mais lamentável em todo esse panorama é que era escasso o material sobre artes marciais, mas ao mesmo tempo haviam muitas matérias que iam na essência da coisa. Já hoje temos uma gama um pouco maior de revistas e artigos, blogas etc. com bastante marketing que não havia naquele tempo, mas com apenas matérias com os lutadores da moda e suas artes da moda que vemos comumente no MMA.

      Eu pessoalmente não vejo como a maioria vê sobre ter havido um avanço no universo das artes marciais. Acredito que o único avanço que houve seja a respeito da mídia em cima do tema e o interesse popular com relação ao assunto. Mas se formos analisarmos a questão um pouco mais de perto, veremos que mais uma vez o público ocidental sempre gostando e assimilando as coisas ao seu modo e não se adaptando a essência da coisa.

      Na década de noventa especificamente em 1993, a família Gracie com seu próprio Ju Jutsu, desafiava vários lutadores de outros estilos os quais eles alegavam só funcionarem no cinema. Não entrando profundamente ainda nesta postagem no tema, mas sim superficialmente e entrando mais nos aspectos do porque de tantas derrotas de tantos estilos para o sistema dos Gracies, venho trazer uma reflexão sobre a compreensão dos sistemas asiáticos especializados em lutar em pé e o porque talvez tenham ocorrido tantas derrotas.

     Penso que a metodologia asiática de artes marciais e ensino dos sistemas tipicamente asiáticos que contam com katas e formas tão questionados na atualidade por diversos profissionais e adeptos de artes marciais que não os possuem e que ganhou força desde os desafios Gracies em virtude de tantas derrotas, deva ser refletido com mais cuidado. Algumas coisas devem ser pensadas a respeito da compreensão do que aprendemos nós que estudamos o Karate-Do Shotokan Ryu. O Karate-Do claramente descende do Kung Fu e a metodologia chinesa de passagem de conhecimentos sempre foi muito particular.

     É nesse processo de passagem de conhecimentos e técnicas de combate que foram criados os Katis e formas do Kung Fu que por sua vez deram origem séculos depois aos katas do Karate em Okinawa. Já os estilos de Ju Jutsu no Japão, já não levaram tal influência chinesa no que diz respeito ao processo da prática de katas. Mas nem por isso não tenha também uma provável ligação histórica com o Kung Fu. Acredito até nesta possibilidade embora seja mais um desgosto para o preconceituoso povo japonês que em se tratando da China e suas técnicas, rejeita por motivos culturais entre esses dois países tudo que os vincule.

     Alguns entendem que estudar os katas apenas consiste em se exercitar com os mesmos, mas que eles nunca nos serviram em lutas reais. Esses tendem a ver o Karate-Do apenas como uma arte marcial que se resume as lutas que vemos nos atuais campeonatos onde tudo ocorre em busca de pontos e a velocidade, jovialidade e a superficialidade reinam não deixando a arte marcial verdadeiramente fluir. Geralmente os que buscam estar sempre competindo, odeiam aulas de kata e estão sempre sedentos pelas aulas de kumite loucos para lutar apenas e não estudar o kumite. O Karate-Do é uma arte totalmente rica, completa, complexa e inteiramente interligada em suas técnicas de katas, kihon e os vários tipos de kumite.

      Não haverá evolução real dentro do Karate-Do sem compreensão e assimilação do que há nos katas. E devemos treinar a rigor originalmente os vinte e seis katas, os kihons e estudar detalhadamente os tipos de kumite. Além disso acredito que cada um de nós tenhamos um processo ou devemos buscar a nossa forma de assimilarmos as técnicas dos katas. Para isso cada um vai encontrar a sua forma própria, mas não deve deixar de buscar essa compreensão. Alguns conseguem isso observando naturalmente os katas, estudando os mesmos e sendo orientado pelo próprio Sensei.

      Para isso também se faz necessário que o Sensei tenha uma boa bagagem para passar o autêntico Bunkai, ou seja, a aula onde vemos a tradução do que ocorre dentro dos katas e suas respectivas técnicas que por sua vez, por vezes vemos sete aplicações distintas para a mesma técnica segundo o Shihan Kung em cada kata dos vinte e seis. Por isso vocês verão por aí várias aplicações diferentes as quais nunca viram ou não imaginavam que tais técnicas teriam tais aplicações,e como verão outras técnicas que vocês já viram e sabiam que existiam nos katas. E por isso a questão se torna um pouco complexa, pois fica difícil caso não tenhamos conhecimento da existência de determinada aplicação, de afirmar ser autêntica a aplicação mostrada, ou uma invenção de quem aplica.

     O que importa é estudar todos os bunkai de forma séria, mas com mente aberta e não dispersa, pois se não ficarmos atentos podemos estudar aplicações inexistentes sem autenticidade alguma e eficiência também em ação. Devemos ter em mente que uma luta real dentro do panorama do Karate-Do, ou seja, Karate vs Karate ou mesmo nas ruas e contra outros estilos, se baseia como em tudo na vida em ação e reação e a partir do momento em que você busca fazer os movimentos bonitos ou busca aplicar a metodologia pensando nela e não instintivamente, você tende a falhar. As pessoas também devem entender que as técnicas nos katas estão algumas  sequenciadas e muitas delas são independes umas das outras e por isso mesmo não devem esperar que as técnicas sejam aplicadas em realidade como aparecem nos katas. Assim como o Shihan Gichin Funakoshi já falava: "Não pense na vitória e  nem na derrota", os katas não devem ser pensados, mas sim vividos. A arte deve fluir em nós e nós devemos nos mover naturalmente quando executamos os movimentos do Karate-Do. A partir do momento em que você pensa na técnica que vai usar, você morre.

     Venho trazer aqui um primeiro vídeo de vários que postarei aqui a respeito dos meus treinamentos particulares. Com isso, ou seja, com o que mostro nestes vídeos, não significa que só treine assim e não da maneira tradicional treinando katas, kihon e kumite, mas sim trago aqui um tipo de treinamento alternativo que uso paralelamente aos tradicionais, que tem como intuito a prática dos movimentos e técnicas dos vinte e seis katas, mas livremente e mesclados entre si. Em cada vídeo os amigos verão o Karate-Do Shotokan Ryu sendo executado de forma livre e sem mescla cou outros estilos, mas usando as técnicas que existem nos vinte e seis katas Shotokan Ryu de modo que por vezes alguns amigos que acompanham o meu trabalho com o Karate-Do e meu desenvolvimento nesta arte, tem até as vezes a dificuldade de reconhecerem que o que estou executando nos vídeos seja o Shotokan Ryu.

       Já houve vez que recebi de algumas pessoas de fora do país as perguntas: "Que estilo é esse?" ou "Qual é o seu estilo?" após verem esses vídeos. E muitos também compreenderam a natureza deste exercício e além de gostarem, já ouvi dizer que adotariam tal metodologia. O cérebro não pode estar condicionado a só reconhecer o estilo que praticamos vendo apenas os movimentos dentro dos katas que todos conhecem! Acredito que não havendo descaracterização dos fundamentos e a continuidade da prática da arte com os treinamentos de kata, kihon e kumite, algumas boas possibilidades podem auxiliar a assimilação da arte em si que por sua vez em se tratando de Karate-Do, consiste nos katas.

Compreendam os katas e vivam os katas naturalmente com seus corpos e aí sim vocês serão a arte em pessoa. Ter a graduação na cintura e papel é vazio se ela não estiver no corpo. O treinamento deve ser diário e constante, pois o Karate-Do é exigente e nos exige isso. Sem prática não há entendimento. E o entendimento deve ser verdadeiro e honesto ao ponto dele ser tão natural quanto quando mexermos o nosso braço. Assim são os praticantes de Judo e Ju Jutsu, quero dizer, eles não pensam em como, o que vão aplicar e se vão usar técnicas bonitas de se ver, mas usam o quer treinam realmente e pensam na eficiência. E arte marcial se não for assim, não é ela que está errada ou não é funcional, mas sim há algo de errado em nossa forma de ver a arte, treinar a arte ou com a nossa mente.

Oss!

Sensei Allan Franklin.

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